Corpo: casa, espaços vacilantes
Ana tinha já uma bolsa atravessada no ombro e um botão da camisa desabotoado
estava, nesse cansado momento da existência, constituindo uma travessia:
à procura do pontozero do seu existir
à procura da cidade natal que guarda sua morada
à procura de um descanso no mundo__________
da casa
e de
estar inteira.
- ora, trago um cansaço imenso no bolso de dentro, Tarcísio. sou estrangeira no chão onde piso, e meu corpo é esse campo aberto, absurdo! precisava dar atenção a esse corpo, e foi nessa viagem que deixei-o numa completa abertura para receber do mundo todo o vivo guardado em cada espaço vacilante e consegui entender esse corpo como um acesso, uma busca, parte consonante dessa -travessia-
creio que devo procurar esse acesso também por mar, pensei
mas antes
quando Rute me pediu que a acompanhasse até as montanhas, onde recebemos toda a vastidão de paisagens pelos olhos, pude perceber que minha casa não é um firmamento de terra ou de mar
é então esse corpo, Tarcísio
que me acompanha desde o pontozero do meu existir
que guarda o sentido da minha morada mais profunda, a de ser cidade natal
que é o meu descanso quando o entendo assim
e que não importa o caminho, o meu lugar não é.
sei do espaço da metamorfose, e pelos fins, tenho medo
o entendimento por hora é o do que
é nessa casa que farei morada
é nessa casa erma que ficarei.
Por Natame Diniz, que publica outras conchas catadas nas areias do seu peito neste Dobra tua língua