Remedios Varo

 

Dos surrealistas, não é famosa como Dalí ou Buñuel. Dos artistas mexicanos, as pinturas não são tão conhecidas como as de Diego Rivera e Frida Kahlo. Mas Remedios Varo estabeleceu-se em um universo paralelo onde não havia como fugir dela: é criadora com ares de divindade de criaturas híbridas e andróginas que habitam telas coloridas. Uma tecelã de sonhos em pequenas molduras, que são, para nós, janelas.

Devido aos profundos deslocamentos de sua juventude, Remedios passou o resto da vida preferindo as viagens mentais. Influenciada pelo catolicismo exacerbado da mãe e a mente prática e científica do pai – ambos sempre incentivaram Remedios a desenhar – ela imaginava cenários paradoxais, onde seres místicos pudessem coexistir com elementos simbólicos de morte, esoterismo, ciência e psicologia.

Remedios era uma artesã de suas pinturas, e o processo era árduo e detalhado. Começava com um desenho completo para então transferi-lo para a tela. Sua técnica consistia em aplicar delicadamente o verniz e a camada de tinta, combinados com gotas, borrões e arranhados, trabalhando profundidade e superfície. A técnica permitia-a aproveitar as nuances entre fundos escuros e personagens claros. Os temas de ocultismo e de autodescoberta saltam aos olhos em obras como Papilla Estelar, de 1958, onde uma criatura, que não se sabe se é homem ou mulher, retira das bases de uma Lua enjaulada as estrelas. Ela própria também está aprisionada, em um alto e mítico lugar.

Mas Remedios era mais como as estrelas livres, espirituosa e inquisitiva. Viveu no México quase toda à sua vida. Sua amizade com a pintora inglesa Leonora Carrigton, que também era surrealista, impulsionou a criação de mais criaturas metamórficas, com especial apreço pelos gatos e toda a sua elasticidade.

O poeta mexicano Octavio Paz escreveu sobre ela esses versos:

“Ela não pinta o tempo, e sim os momentos em que o tempo está descansando
Em seu mundo de relógios congelados, nós podemos ouvir o fluido das substâncias, a circulação das sombras e da luz: o tempo maturando
Formas procuram suas próprias formas; formas procuram sua dissolução”.

Texto: Cecília Garcia

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