Como tudo é grande quando se é criança; o mundo recém-descoberto é dos gigantes. O fogão onde transborda o leite é alto como um prédio, o líquido branco que escorre não parece que vai queimar. Os muros não permitem ver o céu. Na sala de aula, que medo das cadeiras viradas para a parede, o sinal do erro. Quando se é adulto, tudo é pequeno, cabe na palma da mão. A obra de Nazareno também.

O artista plástico tem a fala mansa, de quem nasceu perto do mar. Diz que todo artista é, por ofício, um coletor; Nazareno coletas as coisas do mundo, as que esbarramos e as que são completamente invisíveis, como os sentimentos. “Sempre desenhei, porque também sempre comi”, ele revelou em entrevista. É também um geógrafo. Risca as cartografias das passagens pelas quais todos passam, o tatear da infância, o vulcão da adolescência, ser adulto e perdido. É difícil não se ver em seus desenhos.

Desenha um emaranhado de veias e incentiva coragem, coragem! Debaixo de muletas pequenas, o esforço de ter chegado até a pessoa querida. Atira uma flecha no espaço branco e sussurra, no futuro, volte para mim, a flecha ou o amor. São conselhos escritos com tinta de sutil ironia, placas antes de se entrar na floresta espinhenta das relações cotidianas.

E como a Alice de Lewis Carroll, que sorveu um líquido para crescer, se caminha gigante sobre sua série de miniaturas. Uma vontade de pisar, um medo de mexer. É a infância invertida, se é dono dela. As inadequações, a hierarquia, a princesa dormindo nos colchões e sentindo a ervilha. Dói.

Nazareno fala sobre pedras; o protagonista de suas obras é o perdedor das lutas do dia-a-dia: Quem chega atrasado, quem é largado, o aluno que não entende a matemática. A dificuldade se materializa em uma escada inalcançável, com o primeiro degrau pendendo no ar e o último de encontro a rigidez do teto.

Onde os pontos se conectam, atenção, amores!, diz uma de suas ilustrações. Onde estão as obras de Nazareno, atenção, um relicário do cotidiano que pode ser seu!

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